Sala de controle
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A IoTificação da manutenção e a reestruturação do PCM

Muito se fala sobre as gerações no aspecto psicológico, mas pouco se fala do aspecto tecnológico, o que considero importante, pois, cada geração é exposta à tecnologia de uma forma diferente, eu por exemplo tive o meu primeiro contato com a tecnologia, através de um vídeo game Super Nintendo de 16-bit que ganhei do meu pai em 1993, sendo que em 1996 já na sexta série do ensino fundamental, aprendi a utlizar uma máquina de escrever Olivetti modelo Remigton 25, para datilografar a matriz do conteúdo de uma aula "seminário" que eu ministrei sobre aparelho digestivo, para então fazer 45 cópias no mimiógrafo, uma para cada colega de classe, pois eu fui privilegiado e tive uma professora nada ortodoxa que invertia os papéis nas aulas de ciências, o que me obrigou a inovar em busca da melhor nota, uma vez que todos faziam a matriz manuscrita, o que as vezes deixava as cópias inlegíveis devido à caligrafia e a reprodução no papel stencil, que geralmente ficava borrada ou apagada por causa do alcool.

Máquina de escrever OlivettiMáquina de escrever Olivetti modelo Remigton 25
Disponibilizada pelo Mauricio Super
Sob licença CC BY-SA
A década de noventa foi um período de muitas mudanças, lembro que o sistema digestório ainda era chamado de aparelho digestivo, mas no material que preparei para aquela aula, através de pesquisas que fiz nos livros da biblioteca do colégio, informei aos "alunos" que eram meus colegas de classe, que uma nova nomenclatura estava para surgir, através de uma nota datilografada toda em letras MAIÚSCULAS no rodapé da página, o que me rendeu elogios e alavancou minha nota.

Se fosse para deixar uma nota no rodapé deste texto nostálgico que você está lendo, provavelmente na internet, eu a utilizaria para enfatizar que: Em meados da década de noventa, as pesquisas ainda eram realizadas em livros e nas bibliotecas, pois sei que se você é de uma das gerações que surgiram após a minha, e há uma grande possibilidade de que você não saiba o significado disso, portanto tu deve compreender que naquela época, computador pessoal ainda era um privilégio para poucos, além do que a Internet, que tornou-se pública somente em 1991, ainda era restrita no Brasil, ao ambiente acadêmico, portanto naquele contexto, do mais simples ao mais complexo trabalho escolar, todos eram elaborados após diversas horas de garimpo de informações em livros, que geralmente ficavam armazenados em prateleiras empoeiradas, e que em muitos casos, não era sequer possível levá-los para casa, o que nos obrigava a copiar todo o conteúdo necessário para elaboração dos trabalhos na biblioteca, pois as máquinas de xerox, conhecidas como copiadoras, assim como os computadores eram pouco acessíveis.

Disquete de 1.44 MBDisquete de 1.44 MB com MS-DOS 6.22
Disponibilizada pelo HombreDHojalata
Sob licença CC BY-SA
Tais mudanças aconteceram principalmente no aspecto tecnológico, e ciente disso, em 1995 eu fiz meu primeiro curso de informática, para aprender MS-DOS 6.22, Windows 3.11, Word 6.0 e Excel 5.0, que por sinal era entediante, por ser muito repetitivo ter que aprender todos aqueles comandos e aquelas funções dos menus do windows e seus programas, sendo que eu acabava me distraindo com jogos como Doom, Paciência e Campo Minado, para aproveitar melhor os momentos de ociosidade, como por exemplo, enquanto os disquetes de 1.44 MB estralavam dentro do drive, durante a instalação dos programas que hoje fazem parte do pacote MS Office.

Desde então, foram tantos avanços tecnológicos, que esse assunto renderia um livro, porém como eu não pretendo me perder com digressões, deixarei registrado que fui iniciado tecnologicamente durante a transição entre a geração que fez curso de datilografia e a geração que fez curso de informática e deixou de cravar letras no papel, através de uma tecla de metal intermediada por uma fita úmida com tinta, e passou a digitar comandos no teclado que eram reproduzidos em uma tela preta, conhecida como prompt de comando, que posteriormente foi substituída por uma janela e transformou todos os datilógrafos em empurradores de mouse, o que decretou a aposentadoria das máquinas de escrever.

Computador PessoalComputador pessoal com Windows 95
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Sob licença CC BY-NC-SA
Uma década depois quando comecei a trabalhar com manutenção industrial, me tornei Programador de Manutenção devido a habilidade que desenvolvi de empurrar mouse, a partir de então transitei por diversos segmentos da indústria, como o químico, de auto peças e de tranporte e logística, e foram essas experiências profissionais que me expuseram definitivamente à tecnologia, o que me obrigou a ingressar no curso de engenharia eletrônica, afinal eu estava diante de fábricas inteiras controladas por automação industrial via sala de comando, planejando e programando a manutenção de reatores, caldeiras, turbinas, bombas, motores, ccms, máquinas operatrizes (centros de usinagem, CNCs, tornos, tornos convencionais e automáticos), injetoras de alumínio, prensas, pontes rolantes, talhas, empilhadeiras, sideloaders e reachstackers.

Mais uma década se passou e tudo está se tornando acessível via dispositivos com telas sensíveis ao toque, o que me faz crer que ainda na próxima década testemunharei a virtualização, tanto dos dispositivos de entrada (teclados e mouse) como dos dispositivos de saída (tela), que serão reproduzidos em realidade aumentada, virtual ou mista e estarão conectados à internet das coisas.

Neste contexto, prevejo que o futuro da manutenção será profundamente impactado pelas tecnologias emergentes, contudo, cabe considerar que as já existentes e estabelecidas, não se tornarão obsoletas, pois será a integração entre elas que regerá todo o "ecosistema" necessário para conectar ativos à dispositivos e torná-los acessiveis para os profissionais da manutenção de forma dinâmica e remota.

Um exemplo do que provavelmente vai acontecer, será a extinção do cargo de apontador, uma sequela do taylorismo, que foi o modo de produção criticado por Charlie Chaplin no clássico do cinema conhecido no Brasil como Tempos Modernos, e isso ocorerá quando os painéis das máquinas e equipamentos estiverem conectados diretamente aos bancos de dados, possbilitando assim, que o preenchimento do check-list seja uma pré condição necessária e obrigatória para a operação/produção, que além de transformar os ativos em dispositivos conectados à internet das coisas, servirá para ajudar o PCM a monitorar e diagnosticar falhas em tempo real.

Thyssen Krupp hololens via skypeSuporte técnico através de realidade mista
Em uso pela Thyssen Krupp Elevadores
Disponibilizada via Press Release

Portanto, prevejo um futuro em que os profissionais de manutenção, terão que submeter suas carreiras à um ajuste técnico, pois além de integrar o chão de fábrica com a administração, eles farão também a integração de ativos e dispostivos com sistemas e bancos de dados conectados em diferentes servidores e redes, o que requer um profissional mais qualificado e versátil, que domíne a tecnologia da informação e saiba no mínimo consultar e inserir dados em um banco de dados, além de integrá-los e analisá-los através de Business Intelligence, Clould Computing e Big Data. Em outras palavras, a principal característica da Manutenção 4.0 será a IoTificação dos ativos que serão acessíveis remotamente para quem empurra mouse, toca a tela e para os usuários de dispositivos de realidade aumentada, virtual e mista, ou seja, será justamente o domínio destas tecnologias que determinarão os melhores e mais bem pagos profissionais de PCM e da Manutenção.

Enfim, imagine como será o futuro da manutenção, quando o panejamento, a programação, o histórico de falhas, os planos de manutenção preventiva, o manual de operação, o manual de manutenção, o catálogo de peças, os check lists, o suporte e a assistência técnica dos ativos (máquina/equipamento), estiverem acessíveis em campo, através de um holograma gerado por um dispositivo de realidade aumentada, conectados á Internet das Coisas, interagindo com um sistema de Business Intelligence administrado remotamente por um analista de PCM, e alimentado pelos operadores através de telas sensíveis ao toque. Só imagine e responda:

 

VOCÊ ESTÁ PREPARADO(A) PARA O FUTURO DA MANUTENÇÃO?
A TRANSIÇÃO JÁ COMEÇOU. PREPARE-SE!

 

Texto: Primeira edição publicada na Revista Manutenção sob licença Creative Commons  Licença Creative Commons {japopup type="ajax" content="http://www.revistamanutencao.com.br/licenca/by-sa.html" width="800" height="600"}{/japopup}
Imagens: As imagens possuem licenças específicas, consulte as respectivas legendas
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Disquete de 1.44 MB com MS-DOS 6.22 disponibilizada pelo HombreDHojalata sob licença CC BY-SA
Computador pessoal com Windows 95 Disponibilizada por Andrea Faulds sob licença CC BY-NC-SA
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Fauzi Mendonça

Engenheiro em Eletrônica

Especializações

Manutenção e Confiabilidade

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Fundador, Diretor Editorial e Colunista da Revista Manutenção, escreve regularmente sobre diversos assuntos relacionados ao cotidiano da Engenharia, Confiabilidade, Gestão de Ativos e Manutenção.

Desenvolvedor Web e Webdesigner, é responsável pelo design, layout, diagramação, identidade visual e logomarca da Revista Manutenção.

Profissional graduado em Engenharia Eletrônica com ênfase em automação e controle industrial, pós graduado em Engenharia de Manutenção, pela Faculdade Anhanguera de Tecnologia (FAT) de São Bernardo e em Engenharia de Confiabilidade, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Profissional atua há mais de vinte (20) anos com Planejamento e Controle de Manutenção (PCM), em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais, onde edificou carreira profissional como Técnico, Programador, Planejador, Analista e Coordenador de PCM.