Pra ser sincero: Indústria 4.0 ou aerodinâmica em tanque de guerra?

Pra ser sincero: Indústria 4.0 ou aerodinâmica em tanque de guerra?

Perdoem-me os especuladores, pelo desgosto, mas está insuportável. Eu preciso falar sobre esse assunto, pois, o que tenho observado, não cabe em mim, está ferindo a minha alma, existência e consciência ética, portanto, me sinto obrigado a fazer essa abordagem lúcida e crítica, já que poucos são os que se arriscam a desafiar, com ousadia, o senso comum.

Agora tudo é Indústria 4.0, já tem maluco(a) falando em Indústria 5.0 ? QUE BRISA!!!

Como se diz lá na favela, eu sou estraga prazer, o famoso ROBA BRISA, e estou disposto a interpretar o personagem Sancho Pança, para desconstruir ideias mal concebidas, exageradas e antecipadas (profecias), infladas ou criadas no calor do momento, da emoção, senão na maldade.

Confesso que não me surpreenderei se surgirem pessoas dizendo ou cantando:

"Tudo bem, até pode ser, que os dragões sejam moinhos de vento"

Mas eu prometo que vou me esforçar para convencê-los de que os moinhos são moinhos.

O meu objetivo é impedir que mais pessoas caiam no engodo (Clickbait) de especuladores, ao frear exageros, para que não se crie mais expectativas equivocadas, contudo, não pretendo jogar um balde de água fria nos entusiastas conscientes e realistas, pois, são eles que estão nos ajudando a edificar os alicerces da Indústria 4.0.

Enfim, estamos apenas testemunhando, o período de transição para o pós Indústria 3.0, que foi caracterizada pela automação e pelo Toyota Production System (TPS), ou seja, pelo modo de produção da Toyota, após a superação do anacrônico Fordismo.

Para além disso, o que há efetivamente de Indústria 4.0 no mercado, é a aplicação de algumas das tecnologias, ainda isoladas, começando a se conectar, que serão características do próximo modo de produção, que ainda está indefinido e cuja vanguarda é composta por empresas como Tesla e SpaceX.

Contudo, se juntarmos toda as tecnologias existentes hoje, veremos que ainda não há nada tão grandioso, como o advento do motor a vapor, do motor elétrico e do servo motor, que foram capazes de causar mudanças abruptas e representam características das três gerações anteriores da indústria e consequentemente do modo de produção vigente há mais de duzentos e cinquenta anos, ou seja, o modo de produção capitalista.

Não tiro essas conclusões olhando somente para o passado, pois quem vive de passado é antropólogo, tampouco olhando somente para o presente, porque quem vive de presente é o papai noel, mas também não dá pra olhar somente para o futuro, porque quem vive de futuro é vidente.

Tiro tais conclusões, considerando o passado, o presente e o futuro, sendo que considero fundamental analisar o presente e o futuro e compará-los com o passado recente, uma vez que estamos testemunhando outra Corrida Espacial, ou melhor a Corrida Espacial 2.0, cujos avanços tecnológicos, serão determinantes na constituição do que será efetivamente a famigerada Indústria 4.0.

Ainda não sabemos sequer como será a Indústria 4.0 após consolidada, apenas fazemos projeções, estatísticas e conjecturas, o que é normal, dada a expectativa que todos nós criamos com relação a aplicação, em ambientes industriais, das tecnologias já existentes e disponíveis no mercado, assim como, das que estão saindo do forno, portanto, considero que estamos edificando os alicerces da quarta geração da indústria, somente com o croqui nas mãos, pois, é impossível elaborar um projeto, com tecnologias que ainda não existem, ou que estão em desenvolvimento, afinal, não será com prototipagem no arduíno que levantaremos a Indústria 4.0.

Neste aspecto a Indústria 4.0 é mais uma tendência conceitual, do que um projeto pre determinado em ambiente controlado e previsível.

Contudo, o que não é normal, tampouco aceitável é que o assunto tenha se tornado objeto de pura especulação, afinal agora todo mundo tem um sistema IoT, conectado em cloud computing, preferencialmente AWS, com machine learning, inteligência artificial e realidade virtual, mista e ampliada, tudo integrado, quando não com redes neurais e blockchain onboard.

Mas Fauzi! O que mais é necessário para considerar a indústria onde eu trabalho como sendo de quarta geração?

Para além da especulação e das expectativas, é necessário ter além das tecnologias citadas acima, para IoTificar os processos, uma proposta de valor, bem definida, direcionada para clientesfornecedores e principalmente para funcionários, que seja capaz de humanizar os processos.

Sem uma proposta de valor alinhada com a governança ambiental, social e corporativa, que priorize sustentabilidade, saúde, segurança e bem-estar, para além dos manuais de conduta, ética e marketing, o que se obtém é o que os Engenheiros do Hawaii definiram como:

"Aerodinâmica em tanque de guerra"

Afinal, todos esses avanços, que estamos testemunhando surgir, em tempo real, não servirão para nada, se não trouxerem no final do expediente, bem-estar, ou seja, o que se espera é que as tecnologias sejam aplicadas de modo a garantir, uma mudança abrupta no modo de produção vigente, que coloque as pessoas como prioridade zero, na matriz de prioridades de todas as empresas e corporações.

Caso isso não aconteça, poderemos considerar que fracassamos enquanto civilização, afinal o trabalho até dignifica o homem, mas todos nós temos o direito à preguiça e se o trabalhador não puder trabalhar, consumir e descansar dignamente, a proposta de valor do modo de produção vigente, continuará sendo a superprodução alavancada pela super exploração, e essa maneira de organizar o sistema produtivo, já provou por diversas vezes, que possui ou gera contradições, como por exemplo a DESIGUALDADE, que precisa ser superada urgentemente, por uma questão de sobrevivência da espécie, afinal ela nos conduz inevitavelmente e trágicamente para a catástrofe de uma guerra nuclear.

Enfim, este texto foi pensado e escrito às vésperas do dia primeiro de maio, ou seja, no clima do Dia do Trabalhador, portanto, devo lembrar que a origem desse feriado internacional, foi a luta dos trabalhadores de Chicago, no ano de 1886, pela divisão do dia (24 horas) em três partes iguais, sendo que o que eles reivindicaram naquela ocasião foi simplesmente:

OITO (8) horas para o trabalho;

OITO (8) horas para o lazer/ócio/preguiça e;

OITO (8) horas para o descanso.

Afinal a jornada de trabalho naquele período da história variava de 14 à 16 horas por dia.

Note que desde 01/05/1886, muito tempo se passou, muitas tecnologias e inovações surgiram e que, portanto, eu não estou sendo UTÓPICO, tampouco DISTÓPICO, pois ao propor, por exemplo, uma jornada diária de trabalho híbrido de seis (6) horas e melhores condições de trabalho para todos, eu apenas estou sendo PROTÓPICO.

"Eu acho que nosso destino não é nem a utopia ou a distopia, nem o status quo, mas a protopia. Protopia é um estado melhor do que ou o qual nos encontramos hoje e ontem, apesar de ele poder ser somente um pouco melhor. Protopia é muito mais difícil de compreender, porque a protopia oferece tantos problemas novos como também novos benefícios. Essa complexa interação do funcional e do não funcional é muito difícil de compreender" Kevin Kelly

O conceito de protopia foi proposto em 2011, pelo futurista e editor da revista WiredKevin Kelly.

Fauzi Mendonça

Engenheiro em Eletrônica

Especializações

Manutenção e Confiabilidade

Redes sociais

Fundador, Diretor Editorial e Colunista da Revista Manutenção, escreve regularmente sobre diversos assuntos relacionados ao cotidiano da Engenharia, Confiabilidade, Gestão de Ativos e Manutenção.

Desenvolvedor Web e Webdesigner, é responsável pelo design, layout, diagramação, identidade visual e logomarca da Revista Manutenção.

Profissional graduado em Engenharia Eletrônica com ênfase em automação e controle industrial, pós graduado em Engenharia de Manutenção, pela Faculdade Anhanguera de Tecnologia (FAT) de São Bernardo e em Engenharia de Confiabilidade, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Profissional atua há mais de vinte (20) anos com Planejamento e Controle de Manutenção (PCM), em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais, onde edificou carreira profissional como Técnico, Programador, Planejador, Analista e Coordenador de PCM.