Manifesto pela indústria: Reindustrialização ou Desindustrialização

Manifesto pela indústria: Reindustrialização ou Desindustrialização

Instituído por Juscelino Kubitschek, por meio do Decreto Nº 43.769 de 21 de maio de 1958, o Dia Nacional da Indústria é uma homenagem a Roberto Simonsen que faleceu, em vinte e cinco de maio de mil novecentos e quarenta e oito (25/05/1948), aos cinquenta e nove (59) anos de idade.

Considerado o patrono da indústria nacional, Roberto Simonsen foi protagonista na consolidação do Parque Industrial do Brasileiro e tornou-se conhecido principalmente pela defesa intransigente da indústria nacional. Um dos pioneiros do desenvolvimentismo na América Latina, Simonsen foi um expressivo líder da classe empresarial.

Além de professor, engenheiro, economista, empresário, historiador, político, escritor, intelectual orgânico e membro da Academia Paulista de Letras (APL), da Academia Brasileira de Letras (ABL), do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e do Instituto de Engenharia de São Paulo, Roberto Simonsen, também, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP e da Confederação Nacional da Indústria – CNI.

Nos dias atuais, o Dia Nacional da Indústria deve ser utilizado, principalmente, para difundir e fomentar o debate e a reflexão sobre a importância da indústria para o Brasil  e para os brasileiros, pois, desde o início da década de oitenta (1980s), não há muito o que celebrar, afinal, após a crise da dívida externa, o Brasil passou a sofrer com a desindustrialização, que foi mais agressiva, a partir do início da década de noventa, mais especificamente durante o governo neoliberal de Fernando Collor de Mello, que, ao abrir desastrosamente a economia ao processo de globalização, eliminou por completo os mecanismos de neutralização da Doença Holandesa.

Não há, no mundo, nenhum país considerado desenvolvido que não tenha finalizado a sua própria Revolução Industrial (Capitalista), e o Brasil que, há mais de cinquenta anos, passou por um abrupto processo de industrialização, quando perdeu o status de país subdesenvolvido e passou a ser considerado um dos países em desenvolvimento, infelizmente, não conseguiu finalizar esse processo, tornando-se uma economia parcialmente desenvolvida e, em consequência, dependente e cooptada por países de economia desenvolvida de modo pleno.

Esse processo de cooptação econômica ocorreu, sobretudo, pelo poder exercido pela financeirização da economia e pelo rentismo, difundidos e conduzidos pelos países desenvolvidos e catalisados amplamente, nas economias em desenvolvimento, pelo neoliberalismo e pela famigerada globalização, o que acabou por desacelerar o processo de industrialização, em muitos países e, em alguns casos, chegou até mesmo a causar a temida desindustrialização, como ocorreu no Brasil.

Trata-se de um processo análogo a uma parasitagem, em que o país desenvolvido, para manter-se como tal, precisa garantir o crescimento contínuo da sua economia, o que só é possível cooptando economias, cujo desenvolvimento foi tardio e parcial, o que inviabiliza, por exemplo, o que os economistas classificam como catching up dos países com economia em desenvolvimento.

O catching up é o processo pelo qual os países mais atrasados alcançam os países mais avançados econômica e tecnologicamente, o que requer, além de muito investimento em educação, ciência e tecnologia, um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, que considere a Industrialização como uma política de Estado (permanente) e não apenas de governo (efêmera).

A ausência de uma política de Estado desenvolvimentista é, portanto um dos motivos que impedem o Brasil de se tornar uma nação plenamente desenvolvida, mas há um outro, também preocupante, que os economistas classificam como Doença Holandesa.

Segundo Luiz Carlos Bresser-Pereira, a doença holandesa é um problema antigo, essencial para a compreensão do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, mas só foi identificada, nos anos 1960, nos Países Baixos, cuja descoberta e exportação de gás natural apreciou a taxa de câmbio e ameaçou destruir toda a indústria manufatureira do país. Na década de 1980, surgiram os primeiros estudos acadêmicos sobre o tema e o primeiro modelo de doença holandesa (Corden e Neary 1982; Corden 1984). 

Ou seja, o Brasil sofre de uma patologia conhecida há bastante tempo, a Doença Holandesa, que possui não só tratamento, como também cura, mas que encontrou no nosso país um sistema imunológico vulnerável e incapaz de mitigar a infecção viral, catalisada por vetores conhecidos como os Chicago Boys, que nos trouxeram o engodo do receituário neoliberal, prescrito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no Consenso de Washington em 1989.

Ainda, segundo Luiz Carlos Bresser-Pereira, podemos definir a doença holandesa de maneira muito simples: a doença holandesa é a crônica sobreapreciação da taxa de câmbio de um país, causada pela exploração de recursos naturais abundantes e baratos, cuja produção e exportação são compatíveis com uma taxa de câmbio claramente mais apreciada que a taxa de câmbio que torna competitivas internacionalmente as demais empresas de bens comercializáveis que usam a tecnologia mais moderna existente no mundo. É um fenômeno estrutural que cria obstáculos à industrialização, ou, se tiver sido neutralizada, e o país se industrializou, mas, depois, deixou de sê-lo, provoca desindustrialização.

Em suma, o que falta para o Brasil finalizar a sua Revolução Industrial e tornar-se uma nação plenamente desenvolvida no aspecto econômico e tecnológico é:

- Forjar o consenso na sociedade acerca da necessidade de reindustrialização;

- Elaborar e executar um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo;

- Abandonar o receituário neoliberal imposto pelo Consenso de Washington;

- Reestabelecer os mecanismos de mitigação e neutralização da Doença Holandesa;

- Definir o novo desenvolvimentismo e a industrialização como políticas de Estado;

- Investir na reindustrialização.

Logo o que falta mesmo é a opção formal, pela via do Novo Desenvolvimentismo (Reindustrialização), porque a outra opção, o Subdesenvolvimento, nós conhecemos desde pelo menos vinte e um de abril de mil novecentos e sessenta a três (1963), conforme registro histórico, do Jornal Brasil Urgente, obtido no acervo da biblioteca nacional:

Subdesenvolvimento, doencda holandesa e desindustrialização

Portanto é necessário organizar com urgência a sociedade brasileira, em torno do consenso da reindustrialização. Ela precisa estar coesa, com relação a esse objetivo, para que interesses escusos sejam ignorados e os interesses dos brasileiros entrem como prioridade zero, ao restabelecer o republicanismo e, por conseguinte, a retomada do processo de industrialização, para que o Brasil volte a gerar empregos, renda e possa garantir o estado de bem-estar social.

subdesenvolvimento reindustrializacaoRecorte do artigo [Matérias primas e Indústria] de Costa Rego
Original encontra-se na no acervo da Biblioteca Nacional (BN)
Aspectos : mensario de lettras, artes, sciencias (RJ) – 1937

Enfim, no Dia Nacional da Indústria, em vez de comemorar, ou utilizá-lo para homenagear o patrono da indústria Brasileira, proponho a ressignificação temporária dessa data, para que, em memória de Roberto Simonsen e em benefício das atuais e futuras gerações de brasileiros, possamos difundir ciência econômica de verdade e contemporânea, descrita pelos economistas nacionalistas e heterodoxos, como NOVO DESENVOLVIMENTISMO.

Enquanto isso não se consolidar, estaremos na encruzilhada, diante de duas opções: Reindustrialização ou Desindustrialização e, pelo ocorrido recentemente com a governança do Brasil, é provável que o país siga na direção distópica do subdesenvolvimento e da primarização da economia: Afinal:

“Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, menos a sobremesa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRESSER-PEREIRA. 40 anos de desindustrialização. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). A indústria brasileira em crise. Rio de Janeiro: Jornal dos Economistas Nº 358, Junho de 2019, v. , p. 3-5.

BRESSER-PEREIRA, L. C.; MARCONI, N. OREIRO, L. José. A Doença Holandesa. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Macroeconomia Desenvolvimentista. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2016, v. , p. 67-90.

BRESSER-PEREIRA, L. C.; MARCONI, N. Existe doença holandesa no Brasil?. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Doença holandesa e indústria. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, v. , p. 207-230.

BRESSER-PEREIRA. A maldição dos recursos naturais. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Opinião Econômica. São Paulo: Folha de São Paulo, DINHEIRO, 06 de junho de 2005, v. B, p. 2.

BRESSER-PEREIRA. Os Tempos Heróicos de Collor e Zélia. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Aventuras da modernidade e desventuras da ortodoxia. São Paulo: Editora Nobel, 1991, v. , p. 1-98.

BRESSER-PEREIRA. Collor e o neoliberalismo. Disponível em: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Tendências/Debates. São Paulo: Folha de São Paulo, OPINIÃO, 21 de fevereiro de 1991, v. 1, p. 3.

BRUZZI CURI, L. F.; SAES, A. M. Roberto Simonsen e a modernização do Brasil da Primeira República. História Econômica & História de Empresas, v. 17, n. 2, 17 mar. 2015.

SILVA, L. O. Roberto Simonsen: a industrialização brasileira e a Segunda Guerra Mundial. História Econômica & História de Empresas, v. 13, n. 2, 10 jul. 2012.

Fauzi Mendonça

Engenheiro em Eletrônica

Especializações

Manutenção e Confiabilidade

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Fundador, Diretor Editorial e Colunista da Revista Manutenção, escreve regularmente sobre diversos assuntos relacionados ao cotidiano da Engenharia, Confiabilidade, Gestão de Ativos e Manutenção.

Desenvolvedor Web e Webdesigner, é responsável pelo design, layout, diagramação, identidade visual e logomarca da Revista Manutenção.

Profissional graduado em Engenharia Eletrônica com ênfase em automação e controle industrial, pós graduado em Engenharia de Manutenção, pela Faculdade Anhanguera de Tecnologia (FAT) de São Bernardo e em Engenharia de Confiabilidade, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Profissional atua há mais de vinte (20) anos com Planejamento e Controle de Manutenção (PCM), em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais, onde edificou carreira profissional como Técnico, Programador, Planejador, Analista e Coordenador de PCM.